quinta-feira, 27 de agosto de 2009


INTRODUÇÃO

Atualmente, cerca de 400 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de perturbações mentais ou neurológicas, ou de problemas psicossociais, como o uso abusivo de álcool e drogas. A grande maioria sofre silenciosamente com sua doença, e também com a exclusão social que a doença provoca. A exclusão é resultado dos estigmas e preconceitos contra a doença mental. Os estigmas são rótulos negativos usados para identificar pessoas que sofrem de doenças mentais e são barreiras que impedem os indivíduos e suas famílias de buscar ajuda, pelo medo de serem excluídos.
Assim, a doença mental não sendo entendida pela comunidade como uma doença de causa já bem conhecida, tem sua definição pela determinação cultural e de valores, e não são apenas por fatores biológicos.
Em relação à família do doente, nos primórdios da psiquiatria, ela não o acompanhava, permanecia totalmente alheia e sem participar ou interessar-se pelo “tratamento” que era oferecido ao seu familiar. Assim, a família afastava-se dos cuidados ao doente, pois essa relação era subsidiada pelo paradigma da exclusão do doente, sendo considerada uma das causas para a doença de seu familiar.
Assim, é reconhecido o valor da participação da família na assistência ao doente mental, para o alcance de melhor qualidade de vida do doente e da família. Faz-se necessário, então, que as Instituições de apoio ao doente mental ofereçam orientações necessárias ao portador e sua família, fazendo com que o portador seja participante ativo do processo terapêutico e dando suporte adequado para o núcleo familiar. Para isso, é preciso trabalhar junto ao doente e seus familiares na compreensão da doença, para que a partir disso, aconteça a melhoria na qualidade de vida de todos.

OBJETIVO

Fazer com que o presente projeto se torne um Pólo Referencial de acolhimento e acompanhamento de portadores de sofrimento mental, buscando desta forma a inclusão social, familiar e ocupacional em todos.
Dar resolutividade aos casos encontrados, sem excluir o portador de transtorno mental do meio familiar e social, evitando a prática asilar e a cronificação, resgatando a sua cidadania. Visa também, a partir da preocupação e da necessidade, estimular e divulgar os direitos desses portadores, garantindo seu exercício de forma integrada aos cidadãos da nossa sociedade.
O presente projeto também propõe um trabalho de informações e orientações aos pacientes e suas famílias acerca dos direitos dos portadores de transtornos mentais. Pretende-se promover momentos de democratização de informações no sentido de garantir aos usuários um atendimento de qualidade objetivando apoio sistemático aos portadores de transtornos mentais e sua reinserção ao seio familiar e social.

HIPÓTESES

Existe um enorme preconceito ligado àqueles que são portadores de transtornos mentais. Este preconceito isola o indivíduo em relação aos outros, como se fosse uma pessoa marcada. As relações sociais ficam muitas vezes prejudicadas, como se o portador fosse um ser à parte, um objeto de uma discriminação rejeitante. A estigmatização da loucura faz com que o doente perca a sua cidadania, sofra preconceitos e seja segregado da sociedade.
Entre as formas de preconceito, podemos citar o não exercício pleno de ir e vir, a falta de transporte adequado, a não eliminação de barreiras ambientais, a falta de inclusão no mercado de trabalho, a carência da educação profissional, a falta de atendimentos priorizados nas repartições públicas, entre outros.

JUSTIFICATIVA

Compreende-se que o oferecimento inadequado do tratamento aos pacientes de transtornos mentais, adotados antigamente pelas Instituições, levou os usuários/pacientes inclusive famílias, profissionais de saúde e órgãos competentes tomar providências necessárias caracterizando a luta pela desospitalização onde trouxe frutos para a organização da saúde mental.
Neste propósito, o presente projeto está voltado para a promoção da cidadania, em especial aos portadores de transtornos mentais, com conseqüente reestruturação da rede assistencial e, sobretudo, o melhoramento da qualidade de vida dos doentes. Este projeto visa um atendimento direto ao paciente / família, possibilitando assim a reinserção familiar. Enfim, uma maior adesão ao tratamento e sua reinserção social e familiar.

METODOLOGIA

Os métodos empregados no desenvolvimento deste trabalho serão descritos a seguir:

Amostra

O público alvo deste projeto compõe-se de portadores de transtornos mentais internos do ASADON da cidade de Caratinga, MG e de seus familiares, além do profissional de assistência social.
Trata-se de um estudo exploratório descritivo de abordagem qualitativa. A amostra do estudo constitui-se de dez portadores de transtorno mental e de familiares que fazem parte do dia-a-dia do portador.
Uma vez admitido no ASADON, realiza-se com o portador e sua família um contrato terapêutico, no qual é explicado aos familiares o plano de tratamento individualizado e em grupo, e quais as atividades que serão realizadas durante o tratamento. É solicitada uma autorização aos familiares para que se possam realizar os exames necessários; é explicada a declaração e o termo de compromisso, e, de acordo com as suas necessidades, o paciente poderá participar das seguintes modalidades terapêuticas: atendimento individualizado, grupo terapêutico, grupo de terapia ocupacional, atendimento familiar e acompanhamento medicamentoso.

Instrumentos

Os instrumentos de coleta de dados utilizados no presente projeto serão entrevistas de primeiro contato complementadas pela aplicação de questionários, de onde teremos acesso à observação de fenômenos.
As entrevistas e questionários serão aplicados aos portadores de transtorno mental e seus familiares, em local e hora previamente definidos. Será assegurado o anonimato de cada sujeito participante.

Coleta e Análise de Dados

Após a coleta de dados será efetuada uma análise qualitativa e interpretativa, seguindo as normas estabelecidas dentro do projeto.
Para a análise dos dados será seguido um caminho metodológico identificando as seguintes etapas: ordenação, classificação e análise final dos dados.
A ordenação dos dados engloba tanto as entrevistas como os questionários aplicados. Essa etapa consiste na releitura do material e organização dos relatos em determinada ordem, de acordo com a proposta analítica.
A etapa seguinte, a classificação dos dados, será operacionalizada através da leitura repetida dos textos. Através deste exercício se fará a apreensão das “estruturas de relevância” a partir das falas dos sujeitos do estudo. Nestas estão contidas as idéias centrais dos entrevistados.
A análise final permite fazer uma inflexão sobre o material empírico e o analítico. O produto final é sempre provisório, e condicionado pelo momento histórico, pelo desenvolvimento científico, por sua pertinência a uma classe social e pela capacidade de objetivação.

QUESTIONÁRIOS

Entrevista com o Profissional de Assistência Social

1. Qual o seu trabalho na Associação?

2. Existe algum trabalho de aproximação com relação os assistidos e à família?

3. Com qual freqüência as famílias visitam os pacientes assistidos? Existe algum controle dessas visitas?

4. Como é avaliado o resultado e aceitação do seu trabalho por esses pacientes e por seus familiares?

5. Qual a posição da família em relação a esses transtornos? Eles têm conhecimento suficiente sobre tais patologias?

6. Qual a origem do preconceito existente em relação a esses portadores? Como você lida com essa situação?

7. O que poderia ser feito para minimizar o preconceito existente?

Entrevista com os Portadores de Transtornos Mentais

1. Você tem conhecimento sobre a doença que possui?

2. Como é a relação com a sua família? O que ela representa para você?

3. Sua família tem conhecimento dos seus problemas? Como ela o ajuda a superá-los?

Entrevista com os Familiares dos Pacientes

1. Você tem conhecimento sobre a doença que esse paciente possui?

2. O que levou a internação desse paciente?

3. Você o visita com freqüência e está inteirado com tratamento e desenvolvimento de seu familiar?

4. Como você e sua família agiriam em relação ao retorno do paciente ao ambiente familiar?

5. Como você pode contribuir para que esse indivíduo possa ser reinserido na sociedade?

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Estudiosos da Organização Mundial de Saúde definiram de diversas formas a Saúde Mental, nas distintas culturas, como sendo um conceito que abarca, entre outros aspectos, o bem estar subjetivo, a percepção da própria eficácia, a autonomia, a competência, a dependência intergeracional e a auto-realização das capacidades intelectuais e emocionais. À partir de uma perspectiva transcultural, é quase impossível chegar a uma definição exaustiva de Saúde Mental. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais.

PSICOPATOLOGIA

Psicopatologia é um termo que se refere tanto ao estudo dos estados mentais patológicos, quanto à manifestação de comportamentos e experiências que podem indicar um estado mental ou psicológico anormal. O termo é de origem grega; psykhé significa espírito e patologia, estudo das doenças, seus sintomas. Literalmente, seria uma patologia do espírito.
A psicopatologia enquanto estudo das anormalidades da vida mental é às vezes referida como psicopatologia geral, psicologia anormal, psicologia da anormalidade e psicologia do patológico. É uma visão das patologias mentais fundamentada na fenomenologia (no sentido de psicologia das manifestações da consciência), em oposição a uma abordagem estritamente médica de tais patologias, buscando não reduzir o sujeito a conceitos patológicos, enquadrando-o em padrões baseados em pressupostos e preconceitos.
Karl Jaspers, o responsável por tornar a psicopatologia uma ciência autônoma e independente da psiquiatria, afirmava que o objetivo desta é “sentir, apreender e refletir sobre o que realmente acontece na alma do homem”.
Para Jaspers, a psicopatologia tem por objetivo estudar descritivamente os fenômenos psíquicos anormais, exatamente como se apresentam à experiência imediata, buscando aquilo que constitui a experiência vivida pelo enfermo.
A psicopatologia se estabelece através da observação e sistematização de fenômenos do psiquismo humano e presta a sua indispensável colaboração aos profissionais que trabalham com saúde mental, em especial os psiquiatras, os psicólogos e os assistentes sociais, dentre outros.

Grupos ou categorias

As manifestações psicopatológicas podem ser classificadas de diversas maneiras, por etiologia a exemplo das orgânicas e psicológicas por tipo de alteração a exemplo da neurose e psicose que considera a relação com a consciência, perda de contato com a realidade na concepção psicanalítica desta, etc.
A categoria de classificação possui fins estatísticos, ou seja, de tabulação de prontuários médicos, atestados e declarações de óbito. Entre as mais conhecidas estão o CID 10 (Classificação Internacional das Doenças e de Problemas relacionados à Saúde) e o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais), uma publicação da American Psychiatric Association, Washington D.C., sendo a sua 4ª edição conhecida pela designação “DSM IV”.
O capítulo V do CID corresponde aos Transtornos Mentais e Comportamentais e inclui as seguintes categorias de classificação – que por sua vez são subdivididos em sub-categorias:

F00-F09 – Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos.
F10-F19 – Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substâncias psicoativas.
F20-F29 – Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes.
F30-F48 – Transtorno do humor (afetivos).
F40-F48 – Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o stress e transtornos somatoformes.
F50-F59 – Síndromes comportamentais associadas com distúrbios fisiológicos e a fatores físicos.
F60-F69 – Transtorno de personalidade e do comportamento do adulto.
F70-F79 – Retardo Mental.
F80-F89 – Transtornos do desenvolvimento.
F90-F98 – Transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente na infância e adolescência.

Observa-se que várias categorias de classificação podem ser desenvolvidas a partir dos critérios fornecidos por distintas teorias como, por exemplo, a fenomenologia que propõe a descrição a partir das manifestações observáveis ou a psicanálise que lida com modelos de relação do ego com os mecanismos inconscientes do desejo e a realidade.

SAÚDE MENTAL

Saúde mental é um termo usado para descrever um nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional ou a ausência de uma doença mental. Na perspectiva da psicologia positiva ou do holismo, a saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica.
A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição “oficial” de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a “saúde mental” é definida.
Embora a expressão possa ter significados diferentes, a auto-estima e a capacidade de estabelecer relações afetivas com outras pessoas são componentes importantes da saúde mental, universalmente aceitos.
Em geral, a pessoa mentalmente saudável tem boa auto-estima e compreendem que não são perfeitas. Elas vivenciam uma vasta gama de emoções, incluindo tristeza, raiva e frustração, assim como alegria, amor e satisfação.

TRANSTORNO MENTAL

Por transtorno, distúrbio ou doença mental, ou ainda, transtorno psíquico, devemos entender qualquer anormalidade psíquica ou no seu funcionamento. O transtorno mental é um campo de estudo interdisciplinar que envolve áreas como a psiquiatria, a psicologia e a neurologia. As classificações diagnósticas mais utilizadas como referências hoje são o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM IV), e a Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
Em psiquiatria e em psicologia prefere-se falar em transtornos ou distúrbios psíquicos e não em doença; isso porque apenas poucos quadros clínicos mentais apresentam todas as características de uma doença no sentido médico, isto é, o conhecimento exato dos mecanismos envolvidos e suas causas.
O transtorno mental engloba um amplo aspecto de condições que afetam a mente. Provoca sintomas tais como, desconforto emocional, distúrbios de conduta e enfraquecimento da memória. Algumas vezes, doenças em outras partes do corpo afetam a mente, podendo desencadear outros tipos de doenças produzindo sintomas somáticos.

A BARREIRA DO PRECONCEITO

Cada ser humano nasce e se desenvolve de maneira única. Nenhuma pessoa é igual à outra, e reconhecer isso é fundamental para compreender e respeitar os portadores de transtorno mental. É preciso que pessoas com transtornos mentais sejam reconhecidas como seres integrais, dignos, com direito à liberdade, à integridade física e moral, à reabilitação para o trabalho e à qualidade de vida.
Para alcançar esses objetivos, devemos trabalhar em conjunto e diminuir o preconceito por parte dos profissionais de saúde, das famílias e das comunidades. Afinal, aceitar e tratar com respeito e afeto o portador de transtorno mental é o melhor caminho para a sua reabilitação e para o fortalecimento de sua cidadania.
É importante reconhecer que os direitos são iguais e as oportunidades também, não oferecendo obstáculos de qualquer ordem para o exercício da cidadania.

INSERÇÃO

Entendermos que a proposta de inclusão nos diversos níveis, especificamente das pessoas portadoras de transtornos mentais, compreende não só a eliminação de barreiras de preconceitos, mas também, entre outros, fazer com que se tenha noção da realidade do seu potencial das suas necessidades, dos seus direitos e das suas dificuldades, além de reintegrá-los ao ambiente familiar e social.


ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

PRECONCEITO E ESTIGMA

A cultura é constituída por costumes, moral, leis, artes, crenças, conhecimento e hábitos adquiridos pelo homem em uma sociedade, desse modo, a saúde e a doença são influenciadas por este contexto, além do reconhecimento à pessoa e das formas de tratamento.
A loucura é um “mistério” desde os primórdios tempos, o louco já era estereotipado e visto como um incômodo para a sociedade vigente, pois era um indivíduo sujo, estranho, que agia diferente das pessoas normais, sendo, então, excluído. Desse modo, o padrão de comportamento estabelece aquele que é adequado ou não, e daí surgem todos os preconceitos e estigmas.
Ainda hoje o louco é visto com preconceitos. A concepção da loucura está, de certa forma, ligada à história do homem. Mas, parece que o contato dos profissionais de saúde com a doença, desmistifica o louco e a loucura. Assim, é importante ressaltar a necessidade de esclarecimento da população sobre a doença para que os preconceitos e estigmas diminuam.
A falta de preceitos éticos e a falta da conscientização da sociedade faz com que haja concordância dos portadores de transtorno mental sobre o estigma da loucura. O próprio doente refere que a única solução para o “problema do doente mental é a internação em hospital psiquiátrico”, demonstrando a aceitação desses portadores da exclusão como forma de tratamento e, este paradigma, reflete o estigma da loucura, onde o louco é segregado da sociedade.

SOB O PONTO DE VISTA DA FAMÍLIA

Observa-se no discurso dos pesquisados, que a experiência de ter um membro da família com doença mental, mobiliza a família como um todo no seu dia-a-dia, independente da forma de como ela vem se constituindo, em razão de ser muito difícil necessitar desse familiar e ele não poder colaborar no cotidiano familiar.
Os entrevistados relatam os diversos comportamentos que o familiar portador de transtorno mental apresenta, inclusive, a agressividade presente no dia-a-dia de seus familiares. Destacam como causa dessa agressividade o nervosismo, a dificuldade para o entendimento, a revolta e até o desejo de isolamento.
Do ponto de vista emocional, o estresse, as vivências de instabilidade e insegurança, os conflitos freqüentes nas relações fazem parte do cotidiano dessas pessoas. Além disso, é comum os familiares se distanciarem das atividades sociais, motivados pela vergonha, cansaço ou frustração.
O familiar vai se desgastando pela convivência com a pessoa portadora de transtorno mental, acarretando sobrecarga física e emocional, privando-se da sua própria vida para poder prestar um cuidado adequado. O comportamento imprevisível da pessoa debilita as expectativas sociais e origina incertezas e dificuldades no grupo familiar e na sociedade.
As entrevistas evidenciam a ausência de informação e divulgação sobre a doença mental entre os familiares. O familiar buscando uma causalidade para a doença acaba por querer explicá-la como uma doença orgânica; entendem- na como uma desestruturação da personalidade, um processo disfuncional. Para o familiar, a religião é a busca do alento e a esperança da cura.
O pouco entendimento dos familiares sobre a doença mental faz com que a sua busca seja por um exame que detecte onde está a doença, procurando então, um local no cérebro que possa explicar as alterações de comportamento apresentadas pelo paciente.
A família do paciente mental o define como aquele que tem um comportamento diferente, e isso indica padrões de comportamentos não aceitos por eles mesmos; ainda referem-se aos pacientes como aquele que faz “criancices” e a doença como meio de vida, tentando normalizar o estranho.
Os membros da família geralmente se beneficiam de orientações dadas sobre a doença e seu tratamento, e do aconselhamento familiar, que proporciona apoio emocional e dicas práticas sobre como interagir com o portador de transtorno mental. Reuniões com o paciente e com a família também pode ser uma boa fonte de orientação, e são especialmente úteis no aperfeiçoamento das habilidades de comunicação e para o aprendizado de estratégias úteis para enfrentar a doença. Melhorando a forma como a família enfrenta a doença, pode-se reduzir a sobrecarga sobre a família e reduzir os sintomas e as incapacidades do doente.
A presença de um familiar com esse tipo de doença provoca outras necessidades até então não manifestadas, como, por exemplo, determinar um cuidador, conviver com momentos estressantes de crise, entre outras. Pesquisadores perceberam, a partir da experiência em trabalhar com famílias, a importância da atenção dos profissionais para as necessidades daquelas famílias que convivem com a doença, principalmente no que concerne a orientações sobre a mesma, sobre os cuidados específicos requeridos.
Trabalhar com a família não é tarefa fácil, e exige uma análise acurada do contexto socioeconômico e cultural em que a mesma esteja inserida, analisando suas representações perante a sociedade, conhecendo a sua realidade de forma a desvendar o entendimento em família para que o conhecimento se funda à prática, de forma a superar os limites e possibilidades para a concretização das propostas.
Os resultados apontam que o contato com os familiares é necessário e indispensável, entretanto, as entrevistas evidenciam que a família é reduzida a um informante da vida de seu familiar doente. Idealmente o familiar deveria ser um aliado na execução do tratamento proposto, dividindo e construindo coletivamente entre pacientes, familiares e profissionais, um plano terapêutico, ou seja, o familiar deve ser co-partícipe do tratamento e da reabilitação.

SOB O PONTO DE VISTA DOS PACIENTES

Para explicar a doença mental, alguns pacientes referem-se à mesma como proveniente de uma instabilidade emocional por aspectos ligados a uma visão biológica, entendendo a doença como algo que atacou o organismo e perturbou as relações afetivas.
Assumir a doença, a loucura, é assumir que não se tem controle da vida e de seu próprio comportamento, é ser desacreditado perante os demais, é perder sua cidadania e perder seus direitos enquanto pessoa. Os pacientes visualizam o louco de forma marginalizada, como alguém que não age conforme os padrões da sociedade, como por exemplo, referem não ser “loucos”, nem sempre são estes os comportamentos vivenciados pelos doentes.
O reconhecer e aceitar a doença fazem a diferença, pois o tratamento é entendido como necessário e essencial para a melhora da qualidade de vida de pacientes e familiares. Porém, o sucesso do tratamento está diretamente relacionado ao modo de como o paciente compreende sua doença e o que faz com tudo, a partir disso.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Percebe-se que, historicamente, a família muitas vezes ficou afastada do tratamento do doente mental, porque este, na maioria das vezes, encontrava-se em hospitais psiquiátricos. Neste modelo, o familiar era excluído do tratamento, a proibição das visitas nas primeiras semanas de internação acabava reforçando a culpa da família. Nos serviços que operam no contexto da Reforma Psiquiátrica, observa-se a necessidade de a família estar ao lado do portador de transtorno mental, modificando comportamentos, aprendendo formas de manejo e interagindo com a equipe.
Através das entrevistas realizadas, os familiares revelaram o descaso em relação o portador de transtorno mental. sua preocupação em relação aos diversos comportamentos que ocorrem com No momento em que acontecem as crises, muitas vezes ficam sem saber o que fazer ou tentam ajudar de alguma forma, porém, de maneira empírica. Percebe-se uma ausência de capacitação dos familiares em relação ao manejo da crise. A criação de grupos de educação em saúde periódica programada ou de psico-educacionais abertos, voltados para a educação em saúde mental, propiciaria informações adequadas sobre a doença, prognóstico, formas de manejo, assim como, um espaço para os familiares externarem os sentimentos decorrentes dos encargos subjetivos e objetivos.
A partir do diagnóstico da doença houve a necessidade a incorporá-la a vida cotidiana, utilizando recursos adaptativos, como identificar um cuidador, lidar com os encargos objetivos e subjetivos de ter um membro acometido por um transtorno mental, o estigma e os sentimentos decorrentes. Muitos familiares apontam para o fato de sentirem-se culpados pela doença acometida a um membro da família. A culpa muitas vezes é uma marca visível na vida dessas pessoas.
Com base no que foi dito nas entrevistas, conclui-se que os sentimentos dos familiares são heterogêneos e ambivalentes, mas acima de tudo existe preocupação com o bem-estar do portador de transtorno mental. Entendemos que, para a família, que é o alicerce fundamental das relações humanas, o fato de ter em seu núcleo um membro portador de transtorno mental ocasiona, para ambos, uma experiência crítica, avassaladora, que marca profundamente as suas vidas.
Os profissionais de saúde devem refletir sobre suas intervenções junto ao portador de transtorno mental e seus familiares e identificar as necessidades deste grupo. Sobretudo, devem trabalhar com o conceito de recuperação, um dos mais recentes acréscimos em reabilitação psiquiátrica.
Para uma pessoa com uma longa história de doença mental, recuperação refere-se à reformulação de aspirações de vida e eventual adaptação à doença. Atualmente, o conceito e a importância de recuperação de doenças mentais severas são aceitos e reconhecidos por muitos setores e representam a promessa de esperança para o futuro.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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